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quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Equação perfeita

Ali. Mais uma vez me vi ali sentada na arquibancada da quadra, cenário do nosso primeiro beijo há alguns anos. Eu disse às 20 horas, mas ele chegou vinte minutos mais tarde. Tempo suficiente para as minhas mãos já frias congelarem e o meu corpo começar a tremer e a minha mente querer ceder ao impulso de fugir dele, da incerteza... Do passado.
Eu me programei para estar ali, todos os argumentos para lançar como facas na direção dele estavam na ponta da língua. Me sentia forte quando cheguei, mas fui ficando mais fraca a cada minuto e quando o avistei me olhando a poucos metros de mim, morri. É isso que acontece quando o coração para, não é?
- Oi.
- Oi. Desculpe o atraso.
- Tudo bem. 
Passeamos pelos corredores relembrando as risadas com os amigos, os salgados do tio da cantina, a agonia antes das provas semestrais, a vila do Chaves onde ficam os laboratórios... Tudo era lembrança do que parecia apenas um minuto atrás.
Após lances de escadas e rampas chegamos ao nosso lugar proibido, chegamos ao flagra da inspetora, ao local onde os casais buscam uma privacidade imprópria para um lugar onde as pessoas só poderiam pensar em estudar. Em vez do cigarro vetado por uma faixa vermelha na plaquinha deveria ter um casal se beijando, mas acho que nem assim resolveria. O prazer dos jovens é a rebeldia.
Eu sabia que não conseguiria dizer todo o discurso que repeti um trilhão de vezes mentalmente, mas nem um terço já era demais. Então comecei com as coisas boas, esperando o momento certo de despejar como soda cáustica todas as lágrimas que rolaram no meu rosto por ele... Mas, a cada instante eu queria cada vez menos brigar, cada vez menos manchar com tristeza e desencontros aquele encontro até aqui perfeito. Se fosse para desabar, que fosse nos braços dele. Este pensamento foi crescendo, começou a martelar até chegar ao ponto de uma britadeira e quem consegue ignorar uma britadeira? Foi quando percebi que já estávamos no cantinho atrás da porta de incêndio. Faz todo o sentido este tipo de proteção, pensei. Sorri. Ele sorriu de volta sem imaginar o que eu tinha pensado, mas de alguma forma parecia que tinha entendido.
A cena a seguir deveria ser de fogo e paixão, consequência da saudade avassaladora. Era isso que os nossos olhos diziam, era isso que saía da nossa boca. Meu sangue borbulhava com a adrenalina daquela fantasia antiga como água em ebulição... Até que nossos lábios se tocaram. Foi estranho. Senti como se o mundo parasse, não sentia mais meu corpo, só a nossa respiração. Paramos e nos olhamos novamente. Como conseguimos ficar tanto tempo longe? Naquele momento ele me parecia simplesmente essencial. Senti vontade de chorar com o aperto no meu coração.
Mais uma vez nos beijamos. Agora, de uma forma calma, com ternura no lugar da paixão. Um beijo longo que não queria parar, tendia ao infinito... Quanto tempo? Não sei, me pareceu horas.
- Estar com você aqui é como estar mais uma vez em outra dimensão.
- Eu sei, na nossa dimensão.
Naturalmente, 'o corpo quer, a alma entende'(hummm).   
Eu não disse, mas meus olhos não conseguiram calar: - Eu te amo. 


*Gênero: Crônica. 
 

Um comentário:

  1. Se tudo isso fosse lembrança, eu daria parabéns por fazer a saudade ter serventia. Se fosse tudo faz de conta, eu daria parabéns por reproduzir sonhos com tamanha maestria. No fim das contas, o parabéns prevalece na equação. ((rs+))

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